Por:Jornal NC - Publicado em 22/06/2016
“Pare de tomar a pílula / porque ela não deixa nosso filho nascer.” Era 1970 e Odair José cantava sobre os comprimidos que enfim separavam sexo e gravidez. Depois da revolução sexual da década anterior, a pílula significava liberdade para muitas mulheres.
Mais de quarenta anos depois, porém, brasileiras se dizem presas à pílula. Elas fazem parte de um movimento que vem crescendo nas redes sociais e discutem como parar de tomar a pílula anticoncepcional e quais são os métodos alternativos mais seguros.
No Facebook, grupos sobre o assunto chegam a ter 25 mil participantes. Uma página, com 80 mil curtidas, ajuda a explicar o motivo: em “Vítimas de Anticoncepcionais, unidas pela vida”, mulheres contam as experiências negativas que tiveram ao tomar os contraceptivos orais.
Os relatos incluem aumento do peso, mudanças de humor, enxaquecas diárias, casos de trombose (formação de coágulo dentro de vaso sanguíneo) e até AVC em mulheres com menos de 30 anos. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), contraceptivos com drospirenona, gestodeno ou desogestrel levam a um risco 4 a 6 vezes maior de desenvolver tromboembolismo venoso em um ano.
Os laboratórios que produzem as pílulas mais populares no país, Bayer (Diane 35, Yaz), Eurofarma (Selene) e Libbs (Elani Ciclo), afirmam que os benefícios para o corpo superam os problemas. Dizem também que os efeitos colaterais estão descritos na bula e, com orientação médica, o uso é seguro. Mesmo assim, as participantes dos grupos reclamam que o acompanhamento é insuficiente.
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Sem explicações
Muitas mulheres dizem procurar os grupos online - atitude geralmente pouco recomendada pelos médicos - porque seus ginecologistas não deram muitas explicações sobre outros métodos ou se recusaram a falar. Lá, trocam experiências sobre como deixar a pílula e aprendem como funciona o DIU (dispositivo intrauterino), a tabelinha, o método Billings e a camisinha feminina. “Na última vez, quando tentei largar o anticoncepcional, acabei trocando de pílula. Fui a vários médicos e sempre tenho a percepção de que queriam empurrar outra marca”, diz Carla Costa, que abandonou o medicamento.
É comum mulheres tomarem anticoncepcionais para controlar espinhas e melhorar a saúde dos cabelos, mas uma visita a um bom dermatologista, já resolveria. Medicamentos como o Rakutan e Pantogar estão aí para isso. Afinal como os homens com esses problemas fariam?
Tabu
Quando conseguem informações e decidem parar a pílula, as mulheres têm que explicar sua decisão para médicos, amigos e família. E esclarecer que isso não significa um bebê a caminho.
Em uma consulta, a estudante de relações públicas Nathalia Lira, 21, ouviu de sua médica que, sem os comprimidos, “logo logo engravidaria”.
A ginecologista Halana Faria recomenda o uso combinado dos métodos alternativos com a camisinha ou o DIU.
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